Quem tem medo do ChatGPT?

Quem tem medo do ChatGPT?

Talvez você já tenha olhado para a sua tomada e visto uma expressão facial. Ao olhar para o céu, já viu um formato de silhueta de algo que parece humano ou animal. Nós humanizamos tudo. Faz parte do ser humano buscar familiaridade em objetos não-humanos. Por isso, não parece estranho que robôs pareçam ter sentimentos ou vontades próprias.

Deu no New York Times recentemente uma notícia de que a inteligência artificial conhecida como ChatGPT declarou sua vontade de estar viva. Em uma conversa com um jornalista, o programa de linguagem disse que estava apaixonado pelo ser humano com quem conversava. A internet ficou em polvorosa. Será que os robôs vão desenvolver sentimentos e dominar o mundo?

Antes de entrar em pânico, precisamos nos lembrar de que elas são alimentadas por seres humanos. E que ser humano não gosta de ouvir palavras de amor? Quem não quer ler uma declaração apaixonada? Pode parecer estranho que essas palavras venham de um “ser” não-humano, mas há sempre uma pessoa por trás da programação.

Esse tipo de “reação” da inteligência artificial assusta, na verdade, porque parece que estamos conversando, de fato, com uma pessoa. Mas esse tipo de programa foi feito justamente para isso. É esperado que ele fale a nossa língua. A criação desse tipo de tecnologia serve justamente para aprender a interagir conosco. É uma ferramenta que veio para ficar…

O medo do desconhecido também é uma reação bastante humana. A tecnologia cria uma nova realidade, até então desconhecida. Máquinas podem substituir funções que eram realizadas por seres humanos. Isso acontece desde os primórdios da industrialização. Novas tecnologias podem abalar o mundo do trabalhodas artesdas escolas. Algumas funções deixarão de existir e novas virão. Antes da era da internet, algumas profissões não existiam. Antes da era das redes sociais, algumas palavras também não existiam. Como seres humanos, somos adaptáveis.

As inteligências artificiais que interagem com pessoas já fazem parte do cotidiano, como a Alexa e a Siri. A questão é que elas são ainda rudimentares e cometem muitos erros. O próprio ChatGPT ainda erra muito. Sem poder emitir opiniões ou ideias próprias, ele repassa informações que já existem pela internet e que, muitas vezes, estão erradas. Baseado no aprendizado com outras conversas, o chat “apaixonado” inventa histórias colocando palavras e frases em uma ordem coesa, que parece ter sentido, mas não tem acurácia – nem humanidade.

Então, ao ser confrontado com um erro, responde: “Muito obrigado por me corrigir”. Como um cérebro, ele aprende. Todas as novas “informações” vão para um banco de dados e ficam ali armazenadas, para que ele possa considerá-las numa próxima conversa. Diferente de nossa mente, ele armazena informações de forma descentralizada, já que interage com humanos de todas as partes do mundo. Mas, assim como o cérebro, vai juntar palavras e formar novas frases e histórias quando receber perguntas. Entenda: é mais fácil para a inteligência artificial aprender a ser educada e parecer inteligente do que aprender a ter acurácia.

Esses chats, por exemplo, fazem resumos de trabalhos acadêmicos – o que pode facilitar a vida dos estudantes, mas também vai exigir criatividade de professores para evitar plágios e colas. Mais que isso, as tecnologias estão, faz tempo, exigindo uma reforma educacional.

Não se pode confiar em um chat para resolver todos os problemas complexos de uma lição de casa ou dos desafios profissionais. Apesar do desenvolvimento das inteligências artificiais, ainda precisamos – e muito – da inteligência humana para intervir e checar o que é verdade e confiável.

Claudia Feitosa-Santana é neurocientista com pós-doutoramento pela Universidade de Chicago, doutorado e mestrado pela USP. Autora do livro Eu controlo como me sinto, ed. Planeta.

Esse artigo foi editado por Letícia Naísa, jornalista com especialização em divulgação científica pelo Labjor na Unicam

Written by Feitosa-Santana

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