Como é o Brasil (dentro de você) na nova ordem mundial?
O Brasil tem mais importância na geopolítica mundial do que a nossa síndrome de vira-lata pressupõe, e é preciso abrir um pouco mais a mente para enxergar o tamanho da nossa potência enquanto nação e enquanto brasileiros.
O mundo viveu uma Guerra Fria que dividiu a geopolítica em dois polos, EUA e USRR. Depois disso, um período unipolar. E os Estados Unidos dominaram o mundo econômica, política e culturalmente. Os tempos mudaram. Estamos entrando numa era multipolar. Hoje, o bloco dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) ultrapassou economicamente o G7 (Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido, Estados Unidos). Somos uma das potências mundiais e, por isso, fomos convidados para o G7 de 2023.
Na vida adulta, a nossa percepção sobre o mundo não vem de fora para dentro, mas de dentro para fora, e está muito alinhada às nossas expectativas. Nos EUA, durante as últimas eleições presidenciais, a revista científica Nature publicou um editorial em que se posicionou a favor do candidato democrata e contra o candidato republicano. Um estudo mediu o impacto deste posicionamento sobre os leitores. Os republicanos deixaram de acreditar na revista, enquanto o posicionamento foi indiferente para os democratas.
Este estudo sugere que o posicionamento político de cientistas mais atrapalha que ajuda. E mostra como a percepção sobre a política é menos influenciada pelo que vem de fora. Isso também vale para outras esferas da vida como a cultura, gostos para música e literatura, entre outras opiniões. O estudo da Nature mostra que as pessoas não mudaram de posição por conta de um editorial e ainda deixaram de consumir e acreditar na revista. Nossa percepção de mundo começa de dentro para fora, a partir de nossas crenças e opiniões que influenciam e afetam a maneira como encaramos o mundo.
Somos bombardeados por informações o tempo todo, e está na hora de questionar de onde vêm esses conteúdos que consumimos. O mundo não é mais o mesmo, mas não apenas por causa da tecnologia, que facilita o acesso a uma quantidade cada vez maior de dados, mas também porque estamos em uma nova ordem mundial – e o Brasil é de extrema relevância.
Vale ressaltar que temos limitações. Não conseguimos apreender toda a realidade, percebemos só uma parte do mundo – e essa percepção é muito influenciada pelo contexto. Para ter um entendimento de mundo mais próximo da realidade, é preciso ampliar as fontes de informação. Além disso, questionar seus próprios vieses. Quando você não é especialista, é fundamental comparar opiniões e, principalmente, verificar os dados de uma história. Temos sempre que ser menos arrogantes e mais humildes como indivíduos, mas, ao mesmo tempo, nos empoderar enquanto nação e enquanto brasileiros – nesse quesito, nos falta muita brasilidade.
Claudia Feitosa-Santana é neurocientista com pós-doutoramento pela Universidade de Chicago, doutorado e mestrado pela USP. Autora do livro Eu controlo como me sinto, ed. Planeta.
Esse artigo foi editado com a colaboração de Letícia Naísa, jornalista com especialização em divulgação científica pelo Labjor na Unicamp.