Depois da atenção em massa para os ataques em escolas: Entenda.

Depois da atenção em massa para os ataques em escolas: Entenda.

Os ataques em massa ocorrem quase cotidianamente nos EUA, muito diferente do que está acontecendo no Brasil. De acordo com o Cambridge Mass Murder Database, quase metade dos ataques em escola acontecem nos EUA. Mas, mesmo assim, eles fazem parte de um fenômeno complexo de violência que atinge muitos países e é diferente de massacre, por isso é chamado de ataques em massa (ou mass shooting, em inglês).

Primeiramente, é preciso dizer que nenhum ataque desse tipo tem relação direta com transtornos mentais. Nenhum tipo de condição médica pode justificar um ataque como os que vimos nos últimos meses. Não existem pesquisas que relacionem doenças de saúde mental a comportamentos violentos, pelo contrário. A maioria dos ataques é cometida por pessoas que nunca receberam diagnóstico de doenças de saúde mental. Um levantamento feito nos EUA apontou que, lá, 1 a cada 4 autores de crimes do tipo tem algum diagnóstico, mas que não é possível associar as ações dos criminosos a suas condições. Esse tipo de associação é equivocada, confunde as pessoas e cria ainda mais estigma em torno de problemas de saúde mental.

É verdade que a maior parte dos ataques, no entanto, é cometida por jovens. Na neurociência, sabemos que, até aproximadamente os 25 anos, o cérebro está ainda em desenvolvimento. As áreas mais frontais do cérebro, que são importantes para o controle de impulsos e por medir as consequências dos próprios atos, ainda estão em formação. Isso também não justifica ações violentas, mas entender o funcionamento do cérebro pode ajudar a entender algumas motivações – bullying, abuso de drogas e álcool, violência doméstica, entre outros.

Vale notar que o desemprego é um dos principais motivadores de ataques em massa ao ambiente de trabalho, onde ocorre grande parte desses ataques.

Indo além, mais de 90% dos ataques são cometidos por homens. Existe uma delimitação de gênero na autoria desse tipo de crime. Poderíamos tentar encontrar algum fator biológico que explicasse, mas os fatores sociais se destacam. Meninos são ensinados a performar uma masculinidade tóxica desde muito jovens, o que inclui sufocar sentimentos e evitar se mostrar vulnerável. Homens devem sempre ser fortes. Isso cria um grande problema para o desenvolvimento dos meninos desde a infância.

Outro ponto que merece destaque nessa história é de que não existe uma relação direta entre os índices de violência de um país com ataques nas escolas. Alguns lugares muito violentos não têm registro desse tipo de episódio, enquanto em outros países considerados pouco violentos esse tipo de ataque acontece. Os EUA têm o maior número de ataques em massa do mundo, mesmo sem estar entre os países com maiores índices de mortes violentas no mundo. O acesso facilitado a armas de fogo é um dos fatores que explica esses números.

Por lá, esse tipo de notícia sobre ataques é coisa do cotidiano – e, por isso, nosso cérebro se habitua. No Brasil, crianças são assassinadas todos os dias e não viram notícias da mesma forma que os ataques nas escolas, porque o choque é maior quando se trata de um evento raro – mesmo acontecendo com frequência no país. Aos poucos, nos dessensibilizamos para esse tipo de história, e isso é algo que nunca deveria acontecer. Cada ataque tem a sua própria história. Infelizmente, muitos ataques são totalmente imprevisíveis. Mas muitos e muitos deles poderiam (e deveriam) ser evitados, uma vez que os futuros atacantes avisam que estão preparando um ataque em massa. Por isso, esse deve ser o foco de todos que estão envolvidos na prevenção dos ataques em massa.

Written by Feitosa-Santana

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