A procrastinação faz mal à saúde! Veja como enfrentá-la com ciência

A procrastinação faz mal à saúde! Veja como enfrentá-la com ciência

 

Talvez você tenha deixado para hoje algo que deveria ter feito ontem. E talvez você deixe para amanhã algo que deveria fazer hoje. Adiar aquilo que deve ser feito é, literalmente, a definição da procrastinação, um ato que cresce cada vez mais na nossa sociedade. Ao contrário do ócio criativo ou do lazer, procrastinar gera mais estresse, mais ansiedade, mais depressão e menos satisfação com a própria vida. Estudo sueco (2023) confirma que a procrastinação, além de prevalente entre universitários, está associada a subsequente piora da saúde mental. Não existe, portanto, procrastinação positiva.

Na vida adulta e profissional, o cenário não é muito diferente, mas tem um agravante: pode trazer prejuízos não só a si mesmo, mas também para uma empresa ou para um governo. Uma boa parte da procrastinação no mundo do trabalho está associada a resultados péssimos e prejuízos que poderiam ter sido evitados. Mas por que não foram?

Talvez desde os primórdios da humanidade, a procrastinação existe. Mas ela foi muito intensificada com o avanço da urbanização e da industrialização. Com as facilidades da tecnologia, podemos nos dar ao luxo de deixar para depois algumas tarefas que precisavam ser feitas com mais urgência. A eletricidade e a geladeira, por exemplo, acabaram com a necessidade de preparar o alimento assim que fosse adquirido, já que ele pode ser armazenado.

Nas últimas décadas, o problema da procrastinação no cotidiano piorou. Começou com a televisão nos anos 1960 e se intensificou com a internet. Cair em tentação para sentir prazer imediatamente e deixar obrigações cansativas para depois ficou ainda mais fácil. Existe uma infinidade de aplicativos que podem tirar o nosso foco até mesmo de sonhos e atividades que podem ser boas para as nossas vidas a longo prazo.

Conversar com um amigo por um app de mensagem, por exemplo, pode ser muito mais prazeroso no momento presente do que terminar um trabalho importante. Quanto mais aversiva uma atividade, mais a procrastinamos, e quanto maior o prazo, pior. Nossa percepção de futuro é muito ruim, por isso, acabamos escolhendo um benefício imediato, presente, ao invés de outro ainda melhor para depois.

 

A procrastinação pode ser uma das palavras que mais define a nossa humanidade, mas a adaptabilidade também. Por isso, é possível enfrentar este monstro e superá-lo. Veja algumas dicas:

 

●     Cuide da sua mente

Se sua saúde mental não estiver em ordem, seu cérebro não terá energia e recursos cognitivos para enfrentar a procrastinação. Se você tem um transtorno mental, seja ele qual for, precisa estar em tratamento, mas se está enfrentando uma situação de tristeza ou ansiedade do tipo que vai e vem, precisa de mecanismos para lidar com os problemas. Se os auto-mecanismos não funcionam, procure ajuda de um profissional habilitado, como um psicólogo ou um psiquiatra.

 

●     Seja realista

Quanto maior a expectativa, maior a frustração quando ela não se concretiza. Não adianta ter pensamento positivo sem encarar a realidade de como você pretende realizar uma tarefa ou cumprir uma meta. A positividade irrealista é extremamente tóxica, então mantenha os pés no chão.

 

●     Planeje-se

A mente humana tem muita dificuldade de planejamento. Na prática, ficamos à espera de um milagre, na esperança de que tudo se resolva. Mas a esperança só é bem-vinda para o que não temos controle. Se a tarefa depende da nossa atitude, é preciso planejar sua realização.

O primeiro passo é escrever quais são as suas metas ou tarefas a serem realizadas. Prazos documentados ajudam a lidar com a procrastinação: se há prazo, é preciso cumpri-lo. É verdade que os prazos impostos por outras pessoas são mais eficientes do que aqueles que impomos a nós mesmos, mas é preciso manter a disciplina para cumpri-los, especialmente no atual cenário de mudanças no mercado de trabalho em que cada vez mais as pessoas se tornam suas próprias chefes.

O segundo passo é planejar o cumprimento de tarefas em durações e não com datas. Quando você tem as suas metas em durações, é mais fácil não procrastinar do que quando você tem data marcada. O prazo até 31 de janeiro parece mais distante do que o prazo de duas semanas. Pensar dessa forma nos ajuda a focar no resultado e não no processo, que pode ser muito mais doloroso. Manter o foco no prêmio final pode ser muito mais eficiente.

 

●     Vença pequenas batalhas

A procrastinação é uma guerra de você consigo mesmo. Como toda guerra, também é feita de batalhas e não pode ser vencida em apenas um dia. Pensar dessa forma nos ajuda a dividir um objetivo em partes. É preciso começar devagar e caminhar aos poucos para concluir o que deve ser feito. Nossa mente valoriza muito o esforço para conquistar objetivos.

 

●     Comemore

Ninguém é de ferro, então se dê uma recompensa depois de cada vitória, que pode ser um tempo de descanso, de ócio criativo ou uma comemoração. Assim, nosso cérebro aprende a valorizar o cumprimento de tarefas e metas e você guarda a lembrança da batalha vencida!

 

Claudia Feitosa-Santana é neurocientista com pós-doutoramento pela Universidade de Chicago, doutorado e mestrado pela USP. Autora do livro Eu controlo como me sinto, ed. Planeta.

Esse artigo foi editado por Letícia Naísa, jornalista e pós-graduanda em divulgação científica.

 

Written by Feitosa-Santana

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