Tapete Bege Claro
Nasci no Brasil e por quase 38 anos tive empregada doméstica e/ou faxineira. Minha mãe sempre foi daquelas patroas que nunca teve problema com empregada, pelo contrário, sempre teve empregadas maravilhosas. Logo, teve muito poucas. A explicação dessa sorte parece estar relacionada com o fato de que ela sempre as tratou com o devido respeito e nunca admitiu que as filhas tivessem qualquer autoridade sobre elas. Ao contrário, me lembro que ordem de empregada tinha o mesmo peso que ordem da minha mãe.
Quando deixei de morar na casa dos meus pais, porque estava estudando em outra cidade, deixei de ter uma empregada doméstica e passei a ter uma faxineira semanal ou quinzenal. Dessa forma, eu trabalhava um pouco mais com os afazeres domésticos, mas era apenas cozinhar e lavar louça. Nada além disso. Durante todos os anos de faculdade os meus pais pagavam as minhas contas e, dentre os gastos, a faxineira. A roupa eu levava de volta para minha mãe que sempre teve a “assistente” para lavar a minha roupa.
Mas quando me mudei para Chicago percebi outros efeitos… nós brasileiros, em geral, somos conhecidos como os donos das casas mais organizadas e limpas. Tivemos excelentes empregadas e fomos acostumados com tudo brilhando. Então, por meses ou anos, nós limpamos muito e, assim que as finanças permitem ou o desconforto de ficar pensando o tempo todo “tenho que limpar a casa” fica insuportável, contratamos a faxina que, em geral, custa 100 dólares por 2 horas, ou seja, 50 dólares/hora. Normalmente, são 2 faxineiras que, então, recebem cada uma 25 dólares/hora. Pagam felizes. Digo pagam porque eu ainda faço a minha faxina. Os comentários são sempre os mesmos: “O dinheiro mais bem gasto do meu salário”, “Não é aquela faxina brasileira, mas dá para o gasto”, “Só de não ter que pensar preciso limpar, não tem preço.”
Mas foi um tapete bege claro que me chocou. Comprei um desses e nunca tive coragem de limpar… depois de quase 3 anos, olhei para ele e disse “chega, você vai ser doado e quem quiser que te limpe”. Ainda não comprei outro porque preciso achar um daquele tipo que tem cara de sujo, exatamente como fiz para comprar o piso cerâmico da cozinha e do banheiro… mas fiquei lembrando de todos os anos que vi a minha faxineira limpando um tapete bege claro enorme que eu tinha na minha sala… conclusão, telefonei para ela e disse:
“Como você ficou anos limpando aquele meu tapete bege claro com escova e detergente? Como você nunca me disse para jogar aquele tapete no lixo? Somente agora, quando EU tive que limpar um desses é que caiu a minha ficha. Me desculpa!”
Ela não disse nada, ela apenas riu… Óbvio! Essa responsabilidade/sensibilidade era uma obrigação minha, exclusivamente minha! Pior de tudo que eu sei que das poucas vezes que fui patroa, fui decente… então, eu fico imaginando o que elas tem que aguentar…