Ser mãe na Terra
A maternidade não é uma exclusividade humana. Parece óbvio trazer essa constatação, mas diversas vezes nos esquecemos desse fato: as espécies ao nosso redor também maternam à sua maneira e há muito o que se aprender com elas.
Vamos tomar como exemplo os chimpanzés, que frequentemente ocupam esse lugar de comparação por serem justamente tão semelhantes a nós. Em um vídeo emocionante e que já rodou o mundo, assistimos a um trecho da vida dos chimpanzés da primatologista Jane Goodall… Flo, por ter idade para ser uma avó, chega ao fim da sua vida enquanto seu caçula, Flint, é ainda uma criancinha. O que ninguém esperava é que ele morresse junto… Isso mesmo que você leu. Flint, diferente de seus irmãos que sofrem, vivenciam o devido luto e então seguem suas vidas, como é de se esperar. Como Flint chegou em uma maternidade tardia, o resultado foi uma criação próxima e bonita de se acompanhar, mas extremamente protetora e com um final trágico.
Cabe aqui, a primeira reflexão sobre a maternidade: a linha tênue entre proteger de tudo e de todos e, ao mesmo tempo, preparar para enfrentar o mundo.
As dores que não se veem
Perder-se nessa relação é um lugar comum, mas é preciso saber separar, ainda que doa. E dor, na verdade, é uma palavra infelizmente bastante presente quando o assunto é maternidade. Há as dores nomeadas como físicas, como as do parto ou da amamentação. Mas há ainda aquela dor mais difícil de explicar, que mora na “alma” de todas as mães, seja do intenso convívio ou da falta de convívio. E, não raramente, a dor da culpa. E por aí vai.
qui, novamente, vale nos compararmos com outra espécie para tomarmos notas e aprendizados. Nesse caso, os golfinhos. Assim como nós, sua gestação é longa, ultrapassa os 9 meses e atinge os 12. A amamentação pode chegar a 18 meses e, por todo esse tempo, a mãe golfinho nada com o filho preso a ela, o que torna o seu nado muito mais lento.
A maternidade é custosa não só para nós humanos, mas para muitos mamíferos sociais. E isso é parte da explicação do porquê os golfinhos, os chimpanzés e os humanos – e outras espécies que não citamos por aqui – não se reproduzem com tanta velocidade: se fosse fácil ter filhos, teríamos aos montes. Mas não é – e não é para ninguém. Se você for mãe, acredita ser a única a falhar?
Muitas mães relatam sintomas de depressão pós-parto, o que torna esse momento já custoso, ainda mais difícil. Para muitas, é leve e alguns ajustes resolvem. No Brasil, estima-se que 1 a cada 4 mães apresentem o diagnóstico de depressão pós-parto e o caminho medicamentoso pode aliviar bastante… e não precisa ser uma vergonha, pois não existe culpa e não é para ser visto como falha. É o que é.
Por isso, também, que a rede de apoio é tão imprescindível, tanto que ela é ancestral. Nossos antepassados criaram seus filhos em comunidade, assim como fazem outros animais. Precisar de ajuda faz parte e não é sinônimo de falha da mãe.
A neurociência tem estudado cada vez mais os sentidos que extrapolam os cinco já conhecidos. Uma nova teoria traz a interocepção como o “sexto sentido”. Trata-se da capacidade de perceber os acontecimentos internos do corpo. Isso vai desde um sinal que algum órgão não vai bem até a saúde mental. Somente você vai poder reconhecer o que está acontecendo lá dentro e, a partir disso, pedir ajuda. Para as mães, seja o parto que não poderá ser natural ou a amamentação que não está indo como se desejava.
É importante não chegar ao ponto da exaustão que leva ao descontrole –não só porque isso afetará a saúde, mas afetará também a relação com o filho. Se ficar muito nesse lugar, a mãe terá dificuldades de criar aquele laço tão famoso, o amor incondicional que se dá nessa relação. Se mãe é quem cria, é preciso justamente que se esteja presente nessa dinâmica, e não só fisicamente.
As delícias da maternidade
Um filho é o passaporte para a eternidade, pois é ele quem irá transportar os genes para frente. Trazer manobras lúdicas para os momentos de higiene como, por exemplo, como trocar as fraldas cantarolando para o bebê, ajuda a reduzir os níveis de cortisol, um dos hormônios relacionado ao estresse e a ansiedade, o que é benéfico para a mãe.
Se você for filha ou filho, deixo a dica de presente, meu livro “Eu controlo como me sinto: Como a neurociência pode ajudar você a construir uma vida mais feliz“, com a ed. Planeta. Clique em opções de compra para comparar os preços em livrarias e sites.
Esse artigo foi editado com a colaboração de Gabriela Monteiro, jornalista com foco em saúde, ciência e linguagem.