Transcrição da fala de Padre Fábio de Melo em entrevista com Marília Gabriela no dia 19/01/2014:

“Nos falta oportunidade e disposição para lidar com o que é precário. Viver é precário, o tempo todo. É a história da nudez. Nós estamos expulsos do paraíso e de alguma maneira precisamos encontrar uma roupa que nos abrigue desse frio existencial. Onde estão as roupas que nos abrigam? Essas roupas precisam ser reais. Eu preciso ter amigos de verdade, eu preciso ter amigos com defeitos e qualidades que eu elegi para estarem ao meu lado. E muitas vezes na relação idealizada (virtual) a gente não permite esse encontro… Abrimos mão do real e vamos viver imaturos o tempo todo, com as frases do Pequeno Príncipe que deveriam ser abolidas:

“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”

Isso é péssimo! E escuto toda hora… porque os carentes de plantão me ameaçam com essa frase. Eu parto do princípio que há coisas na vida que só eu posso me dar. Eu não tenho o direito de esperar que você me dê. Faz parte da minha dimensão pessoal. Então, eu tenho que dar conta da minha vida. Eu não tenho que jogar sobre você os fardos que são meus. Ai aquela pessoa que não faz o menor esforço para viver esse equilíbrio, para se pertencer, ela vive eternamente imatura, ela olha para você e te joga essa frase de efeito… “olha, a partir do momento que você me conquista você é responsável por mim”… Isso é uma mentira, isso é criminoso, isso é um cativeiro… O cativeiro do outro… O outro, que quando não tem maturidade afetiva, vai funcionar sob essas frases de efeito que nos retiram da responsabilidade de sermos quem somos, de curar nossas feridas.

Quem não está ferido nessa vida? Quem não foi traído? Não foi enganado? Todos nós… Mas vamos fazer com que esse prejuízo num primeiro momento seja nosso. Eu vou me articular para ser um ser humano melhor nas minhas relações.”