Meu nome é Vermelho – Orhan Pamuk
(…) tornei-me o sangue que esguicha do célebre demônio branco, quando Rustam o racha no meio com sua espada maravilhosa; e estava nas dobras dos lençóis entre os quais ele faz furiosamente amor com a filha de seu anfitrião, o rei de Turã. Sim, eu estava e estou em toda parte, sempre. (…) Que sorte tenho de ser o Vermelho! Sou o fogo, sou a força! Todos me notam e me admiram, e ninguém resiste a mim. Devo ser franco: para mim, o refinamento não se esconde na fraqueza nem na sutileza, mas reside na firmeza e na determinação. Eu me exponho, pois, aos olhares. Não tenho medo nem das cores nem das sombras; menos ainda da multidão ou da solidão. Que prazer tenho ao pegar uma superfície oferecida ao meu ardente triunfo: eu a encho, expando-me nela; os corações se embalam, o desejo aumenta, os olhos se arregalam e todos os olhares brilham! Olhem para mim: é bom viver! Vejam como é bom ver! Viver é ver. Podem me ver em toda parte, creiam: a vida começa e se acaba sempre comigo.
(Trechos do capítulo de mesmo nome de Pamuk, Prêmio Nobel de Literatura – 2006)