E Decio Pignatari foi embora…

E Decio Pignatari foi embora…

Lembro do dia em que Decio começou a vender seus móveis por que estava de mudança… Eu era sua vizinha (no Barão da Ladário) e ainda não tinha uma mesa que eu realmente gostasse para fazer meus projetos. Fui fazer uma visitinha e sai de lá com a sua própria mesa de trabalho nos braços e seu comentário na cabeça “São Paulo se perdeu, vou embora para Curitiba”. Naquele dia disse a ele que não tinha maturidade suficiente para entender o que ele dizia quando era meu professor, mas que “hoje” era quase semioticista amadora ou, talvez, mais que apenas amadora, mas jamais me compararia a Pierce, Lucrécia ou ele – porque não era esse meu objetivo. Poucos anos depois, conclui que não queria mais saber de clientes de forma alguma e fui me embora para a neurociência e, ao mesmo tempo, mandei a mesa de Decio para Maria da Fé, na casa do meu primo (Luiz Eugênio) que morava na Fazenda do Estado onde era o agrônomo responsável… pena que nunca escrevi a história daquela mesa (e colei embaixo do tampo) para que um dia ela fosse reconhecida e acabesse num museu de semiótica. Uma pena. Talvez aquela mesa ainda esteja com meu primo… Enfim, hoje, dia 2 de dezembro de 2012 (02/12/2012), ele se foi… faleceu no Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (HU/USP). Aquela era uma mente privilegiada. Décio traduziu a obra de McLuhan que antevia uma revolução digital muito antes da existência da internet. Aposentado e já morando em Curitiba há alguns anos, Décio fez uma declaração muito lúcida “No Brasil, hoje, a única expressão artística que me surpreende é a moda”. Na época, eu estava lecionando Colorimetria para o curso de Moda da USP e estava começando a pesquisar as fronteiras entre tecidos e percepção… Hoje começo meus cursos dizendo Percepção é Tudo, mas pausado em estudos neurocientíficos  extremamente recentes. Décio já sabia de tudo isso há décadas.

Written by Feitosa-Santana

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