Fazer Dieta é Perigoso: o que a Neurociência e a Evolução ensinam!
Apenas 1% das pessoas que fizeram dieta vão conservar o novo peso sem ganhar novamente o que que perderam ao emagrecer. Isso significa que apenas 1 em 100 pessoas que fazem dieta terão sucesso a longo prazo. Esses números ficam ainda mais assustadores quando se trata de obesidade mórbida: apenas 1 a cada 1.290 homens extremamente obesos manterão a perda de peso e apenas 1 a cada 677 mulheres com obesidade mórbida. Sabe qual é o problema? Não é a pouca ou ausente força de vontade, mas sim a forma como o nosso cérebro funciona. O que a evolução e a neurociência nos ensina é que focar na dieta para perder peso é um tremendo equivoco. Além de não garantir a perda de peso, muito pelo contrário, a dieta quase nunca vem acompanhada de melhoras significativas na saúde.
Toda vez que você começa uma dieta, o seu cérebro NÃO vai entender que você quer emagrecer, pelo contrário, ele vai achar que você está faminto e vai acionar um estado de alerta, buscando meios para você não perder peso, seja te fazendo não resistir a dieta ou consumindo menos caloria dos alimentos ingeridos. E se você perder peso seu cérebro não vai esquecer o peso anterior e cedo ou tarde você volta para o peso que o seu cérebro deseja que é o peso indesejado por você mesmo. Tanto faz se a perda de peso ocorreu de forma rápida ou lenta, em meses ou anos o seu peso volta para o peso anterior a deita e – pior! – 41% das pessoas passam a ter mais peso do que o peso que tinham antes da dieta. Assustador?
Então, qual a solução? O foco não pode ser a alimentação mas sim as atividades que tirem o foco da comida. Quais são elas? Exercício e meditação. Essas sim são atividades que podem modificar a forma como seu cérebro funciona. A verdade é que o simples fato de entrar numa dieta aumenta e muito a chance de se tornar obeso um dia: aumenta 2 vezes para homens e 3 vezes para mulheres, bastou entrar em dieta. Mulheres que fizeram 2 ou mais dietas na vida tem 5 vezes mais chances de ficarem com sobrepeso. Triste não? Um estudo com gêmeos idênticos nos mostra que o gêmeo que faz dieta é mais propenso a se tornar obeso comparado ao gêmeo que não faz dieta. A diferença na propensão a ganhar peso chega a ser ainda maior quando se trata de gêmeos fraternais, o que sugere (além de muitos outros estudos) um componente genético bastante expressivo na tendência a ganhar peso ou entrar para a estatística da obesidade. Atletas que fazem dieta para se qualificarem às competições como lutadores de box e wrestlers são 3 vezes mais propensos a se tornarem obesos quando chegarem aos 60 anos do que atletas que não precisam de dieta.
Alguns programas para combater os transtornos alimentares visam o oposto: ensinar as pessoas e principalmente adolescentes a não focarem no peso, a não desejarem ser mais magras e a não entrarem em dietas. Entre eles, o eBody Project e o Tri Delta – Fat Talk Free. Nesses programas, as adolescentes acabam por ganhar menos peso em relação a garotas nas mesmas condições que fazem dieta. De novo: o foco não pode ser o regime! Mas por que? Porque fazer regime é estressante e estresse gera acúmulo de gordura abdominal que por sua vez está relacionada com problemas de saúde como diabetes e doenças cardiovasculares. Além disso, estar em dieta gera mais ansiedade que por sua vez aumenta a chance da pessoa adquirir hábitos alimentares compulsivos no futuro. Adolescentes que fazem regime com frequência tem 12 vezes mais chance de apresentarem compulsões alimentares nos anos seguintes.
A compulsão alimentar é uma resposta natural após os períodos de fome exacerbada. Nosso cérebro não entende o regime como um desejo de passar fome para perder peso, mas sim como um período onde a fome é consequência da ausência de alimentos. Ao que tudo indica, essa é uma resposta comum a maior parte dos mamíferos que enfrentaram ao longo dos últimos milhões de anos muitos períodos de fome, mas principalmente para nós humanos que ao inventarmos a agricultura passamos a ter menor variedade na alimentação e enfrentar de forma mais frequente os períodos de fome em decorrência de desastres naturais que destruíam as futuras colheitas. Hoje, os cérebros que se entregam a compulsão alimentar ficam a espera de um período de escassez que nunca virá e, portanto, se tornam obesos. A obesidade é uma novidade para a sociedade dos homens tanto quanto a abundância em alimentos. Portanto, também é uma novidade para nossos cérebros desejar perder peso, recusar a abundância em açucares e gorduras assim como não precisar esperar pela fome.
Regime é sinônimo de estresse, mas não estresse positivo e sim estresse negativo. O estresse negativo consome muita glicose que é o alimento fundamental do auto-controle que terá sua capacidade de resistir a tentação mais reduzida. Além disso, a frequente privação alimentar altera os circuitos de dopamina assim como de outros neurotransmissores no cérebro que são responsáveis por calibrar nossa satisfação e insatisfação, determinando novos limites para definir fome e saciedade ou aceitação e frustração. Ratos de laboratórios adquirem hábitos compulsivos depois de enfrentarem períodos de privação alimentar. Já os ratos expostos ao mesmo tipo de estresse mas sem enfrentarem fome não se entregam a compulsão. Na prática, ratos estressados e que passaram fome vão comer Oreo compulsivamente enquanto os ratos estressados mas que não passaram fome não vão querer comer Oreo sem parar. Portanto, se você não quer sucumbir a um pacote de Oreo ou um pote de Nutela, o primeiro passo é não fazer dieta.
As pessoas em geral associam a perda de peso com uma melhora no metabolismo quando, na verdade, essa melhora metabólica é causada por mudanças de comportamento como, por exemplo, atividade física ou ingestão de alimentos saudáveis (verduras, fibras, etc). Os praticantes da dieta deixam de prestar atenção nos sinas de fome e saciedade e passam a praticar regras externas que não necessariamente beneficiam o corpo em questão. O regime gera um ciclo vicioso que é destrutivo e geralmente pautado na estética. O uso regular de balanças de peso estão relacionados ao desenvolvimento de transtornos alimentares. Crianças que testemunham a dieta de suas mães tem mais chances de ser obesas ou apresentarem compulsões ou outros transtornos alimentares. Enfim, fazer dieta é perigoso.
Esse é um resumo livre do artigo Why You Can’t Lose Weight on a Diet escrito por Sandra Aamodt no The New York Times (6 de maio de 2016) e adiciona o conceito de que o auto-controle é uma fonte limitada de energia (Baumeister et al, 2007) além de pincelar as bases evolutivas da obesidade.
5 Replies to “Fazer Dieta é Perigoso: o que a Neurociência e a Evolução ensinam!”
Sempre fui magro. Aos 71 anos tenho 1,62m e 51 kg. Até recentemente comia pantagruelicamente. Como me encaixo nesa confusão toda?
Você se encaixa no 1% que menciono no vídeo – tem metabolismo excelente e/ou tem uma educação alimentar excelente!
Claudia perfeito seu texto vou elaborar um artigo com base no seu vídeo !!! preciso entrar em contato contigo … estou desenvolvendo um método de emagrecimento baseado em mudanças comportamentais e precisaria muito de sua contribuição e feedbacks ! se possível claro …. me baseio em minha historia que já pesei 180 kg e sofri um AVC isquêmico e apos o episodio emagreci apenas com mudanças de hábitos, estudei sobre psicologia , fiz cursos de pnl e t. cognitiva comportamental, gosto muito das abordagens de freud , jung e lacan …. tudo isso me ajudou no desenvolvimento do método ! hj tenho 133 kgs ainda tenho muito a emagrecer mas espero poder contribuir com pessoas que sofrem desse mal !
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