A autoempatia e a prevenção do suicídio

A autoempatia e a prevenção do suicídio

A autoempatia se caracteriza pela capacidade de empatizar com nós mesmos antes de empatizar com os outros. Para isso é necessário entender que o que eu vejo, sinto e preciso pode ser um pouco ou muito diferente das outras pessoas, e entender essas diferenças nos ajuda a nos relacionar melhor.

É evidente que para nos relacionarmos melhor é preciso o esforço de entender a realidade dos outros, mas será que entender tal realidade é “ler o outro”?

Afirmamos que não, para entender essa realidade é necessário escutar que, muitas vezes, requer fazer as perguntas corretas, para que a partir das respostas seja possível chegar a esse entendimento. Claro que não é uma tarefa fácil, mas, além de ter a chance de entender o outro, podemos também nos entender e, logo, a autoempatia.

É importante ressaltar que toda tarefa demanda energia, mas não se trata de energia espiritual e sim glicose cerebral. Mas como assim? Nosso cérebro pesa menos de 5% do peso total do nosso corpo, mas consome perto de 20% de toda energia que produzimos a partir da nossa alimentação. A glicose é nosso combustível para tudo e isso inclui a autoempatia e a empatia. Sendo assim, pode-se concluir que: é preciso estar inteiro.

Estar inteiro significa não estar cansado, tampouco exausto, mas como podemos estar inteiros e prontos para reconhecer ou entender o outro sem antes entender o que é exatamente “estar inteiro” para cada um de nós? Como posso buscar entender o outro se sequer consigo entender como estou me sentindo? São perguntas subjetivas e complexas, onde a resposta pode ser encontrada dentro de cada indivíduo. Mas, em muitos casos, esse entendimento requer ajuda profissional. Esse é o caso daqueles com ideação suicida, pois não conseguem sozinhos ver saída para seu sofrimento.

Como exercitar a autoempatia?

Se entendemos que o primeiro passo para a empatia é a escuta ao outro, para a prática de autoempatia se faz necessário escutarmos a nós mesmos, mas como fazer isso na prática?
O primeiro passo é ser realista acerca de si mesmo, entender que não está sozinho no mundo, mesmo se sentindo dessa forma.

Com o exercício da autoempatia é possível reconhecer nossos limites e entender o que estamos sentindo, quando sentimos, quais as reações em nosso corpo acompanham tais sentimentos, somente assim a gente sabe realmente o quanto de espaço a gente tem para investir no outro.

A energia necessária para se ter empatia é também essencial para exercitar a autoempatia, sinônimo de autoconhecimento que possibilita o autocuidado, isto é, o respeito ao que é importante para si, que provavelmente inclui uma boa alimentação, exercício físico, boa noite de sono, hábitos que geram mais energia para o corpo. Mas são subjetivos e particulares, cada pessoa precisa descobrir como dosar esses ingredientes.

Se para exercitar a empatia é necessário escutar o outro e fazer as perguntas certeiras, no exercício da autoempatia o que se escuta é o próprio corpo e a mente sempre com atenção aos sintomas que o corpo apresenta e como nos sentimos. Somente a partir dessa escuta ativa de nós mesmos, em conjunto com a escuta ao outro, junto ao reconhecimento dos meus limites, é que entendemos onde eu “encontro o outro”.

Autoempatia e a prevenção do suicídio

De que forma a autoempatia pode ser usada como ferramenta de prevenção de suicídio?
A partir da autoempatia é possível reconhecer o que chamamos de mente em sofrimento, esse sofrimento consome muita dessa energia que usamos para exercitar a autoempatia e dificulta esse processo, por isso os tratamentos são fundamentais.

O tabu em torno do assunto suicídio, faz com que muitas dessas mortes tenham outras causas registradas como morte súbita ou acidente, por exemplo. Por outro lado, muitos que não escondem o suicídio acabam o romantizando e, sem querer, motivando outras tentativas suicidas. Para reduzir ambos, é preciso falar sobre essa mente em sofrimento. Todos que estão sofrendo precisam de ajuda profissional capacitada.

Segundo o portal “Our World in Data”, cerca de 98% dos que cometem suicídio tem um transtorno mental. A grande maioria, depressão, uma doença que tem tratamento e precisa ser vista como um estado temporário. Mas, nesses casos, a pessoa com depressão acha que vai ser assim para sempre. Então, pra que viver? A mente do deprimido com pensamento suicida é uma mente com um sofrimento insuportável – e que precisa de ajuda. Assim, o suicídio não pode ser visto como coragem ou covardia, mas sim como um ato de desespero para se livrar do sofrimento – que tem tratamento.

Referências:
https://ourworldindata.org/suicide
Muitos dos países com maior índice de suicídio são caracterizados por desigualdade e violação de direitos humanos. Cf.: Suicide mortality rate (per 100,000 population). (n.d.). The World Bank | Data. Recuperado em 20 de julho de 2021, de https://data.worldbank.org/indicator/SH.STA.SUIC.P5

Written by Feitosa-Santana

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