Como sua mente funciona antes, durante e depois de catástrofes
Não é novidade para nós brasileiros que os japoneses vivem sob a ameaça de terremotos e, por tabela, tsunamis e enchentes. É óbvio que não estou aqui para falar deles, mas sim do que aprender com eles, pois – ao que tudo indica, aquele Brasil protegido de fenômenos naturais não existe mais. Algo muito novo, deste século, começou com o furacão Catarina em 2004. Mas somente agora, com a tragédia no Rio Grande do Sul, é que eu fiquei consciente desse fato.
Não sou climatologista, nem ambientalista. Sou neurocientista. E estou aqui para ajudar você a entender a mente humana e, em particular a sua própria mente – antes, durante e depois de uma catástrofe.
No Japão, os terremotos ainda são imprevisíveis. Então, eles convivem com a incerteza temporal dentro da certeza espacial. Ou seja, não sabem quando, mas sabem que aqui a terra vai tremer. Por isso, são obrigados a encarar de frente a incerteza. Mas ela vem junto com a certeza. E isso facilita tudo. Eu explico.
Nosso cérebro detesta lidar com qualquer incerteza, dúvida, um talvez sim, talvez não. Ou pior, um pode ser que… desde o exemplo de não gostar do pode ser que vá chover e carregar um guarda-chuva, talvez útil, talvez à toa, um exemplo que parece idiota, até os gestores que detestam ouvir de especialistas um pode ser que… e daí, não raramente, ignoram e arriscam. E foi assim com a explosão da Challenger em 1986, a crise imobiliária em 2008 que ainda afeta a muitos, o rompimento da barragem de Brumadinho em 2019, e agora essa tragédia no Rio Grande do Sul. A lista de cientistas sistematicamente ignorados é gigantesca, no Brasil e mundo afora.
E durante a tragédia? Muitos brasileiros têm medo de desvios em doações. E não sem motivo, pois temos histórico. Muitos, na incerteza se vai ou não chegar a ajuda aos necessitados, não doam. Mas, hoje, temos como buscar organizações mais confiáveis. Então, não deixe que a dúvida te paralise. Pesquise. Atualmente, existem avaliações, rankings e, até mesmo, prestação de contas.
Infelizmente, logo mais, o sofrimento dessas pessoas desaparece do noticiário, pois o cérebro do espectador se habitua com a notícia… e daí elas saem dos holofotes, caem no esquecimento. Para mim, uma das piores fases, pois elas continuarão em sofrimento e precisando de apoio.
E não menos importante, espero que você, meu leitor, não seja uma daquelas pessoas arrogantes que apontam o dedo para os negacionistas climáticos. Essa postura é tão infantil quanto a dos próprios negacionistas, ambos grupos que são impulsionados por duas elites. Uma que nega ou não se importa com os problemas climáticos. A outra que quer cuidar do aquecimento a todo custo, mas não vai deixar de consumir, incluindo o seu turismo frenético. E claro que não vai ser esse bate boca que vai cuidar do nosso planeta.
Sem uma orquestra global, não existe saída. Portanto, da mesma forma que os japoneses vivem preparados para terremotos, tsunamis e enchentes, com infraestrutura, treinamentos em escolas, estoque de água e comida para uma semana, nós precisaremos começar a pensar em como nos preparar para esse novo Brasil que implica em um novo normal.