Livre Arbítrio: Crer ou Não Crer? Eis a questão…
26/09/2016
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É claro que o livre-arbítrio é uma ilusão, mas isso não quer dizer que não se possa falar de liberdade ou responsabilidade moral. Há outras formas de abordar estes tremas, como, por exemplo, o chamado compatibilismo. Segundo esta abordagem, a liberdade se baseia no simples fato de pensarmos e tomarmos decisões – esta exigência suplementar, de que a decisão precisa ser “livre”, é uma ideia estranha, se pensarmos bem nela. O que isto significa? Esta ideia só parece fazer sentido para nós por questões culturais – podemos dizer que vivemos em uma “cultura do livre arbítrio”. O fato destes experimentos serem realizados dentro deste contexto cultural específico condiciona muito as interpretações de seus resultados. A frase “não foi vc quem decidiu, mas sim o seu cérebro”, por exemplo, é um frase muito estranha. Quem é este “você” que existe separado do seu cérebro? (nossa cultura do livre-arbítrio nos faz acreditar na existência de um “eu” etéreo, que existe livre e solto, por assim dizer, independentemente de nosso corpo físico). Para o compatibilista, o que importa apenas é que sua ação seja fruto de uma decisão tomada por seu cérebro. Claro que algumas decisões podem ser melhores do que outras. Uma das vantagens desta abordagem é que permite falar de graus de liberdade, dependendo do quão boas são suas decisões, a partir do desenvolvimento de suas capacidades cognitivas (senso crítico etc). Para sermos judicialmente responsabilizados, basta que sejamos livres em um sentido mínimo: por exemplo, que sejamos capazes de compreender as consequências de nossos atos. Discordo da afirmação de que nossos sistema judiciário de baseia na noção de livre-arbítrio, – esta última, de fato, é uma construção histórica relativamente recente, ligada ao cristianismo. Os antigos não acreditavam em livre-arbítrio, o que não os impedia de ter um sistema judiciário. Nosso sistema atual ainda é em parte compatibilista – pessoas com tumores em certas partes do cérebro, por exemplo, não são responsabilizadas por seus atos, na medida em que sua capacidade de tomar decisões foi comprometida. Nosso sistema judiciário não precisa se basear na ideia de que minhas decisões são “livres” neste sentido estranho, de serem tomadas “independentemente do meu cérebro”. Outro exemplo de conclusão tendenciosa, condicionada por nossa cultura, é a de que os experimentos realizados em Minnesota mostram que o “livre-arbítrio é uma ficção útil”. Um dos defeitos da linguagem de livre-arbítrio, de fato, é que ela é muito oito-ou-oitenta (ou temos livre-arbítrio ou não temos, ou seja, ou somos livres ou não somos), o que favorece muito a conclusão, comum nestes experimentos, de que somos uma espécie de autômato que age mecanicamente (estas parecem ser as únicas alternativas disponíveis, ou temos livre-arbítrio ou somos robôs). A linguagem compatibilista, como já disse, permite falar de graus de liberdade: somos minimamente livres na medida em que somos capazes de decidir e escolher (é claro que fazemos isso através de nosso cérebro), e seremos mais “livres” na medida em que nossas decisões se tornarem melhores. Devemos, assim, ser estimulados a tomar boas decisões. E a afirmação pela qual somos “robôs” que agem mecanicamente, que não podem ser responsabilizados pelo que fazem, não ajuda muito nisso. A verdadeira conclusão a ser tirada do experimento de Minnesota, assim, não é a de que “o livre-arbítrio é uma ilusão útil”, mas sim o de que “pessoas induzidas a acreditar que não pensam realmente tendem a tomar más decisões”.
(I) É claro que o livre-arbítrio é uma ilusão, mas isso não quer dizer que não se possa falar de liberdade ou responsabilidade moral. Há outras formas de abordar estes tremas, como, por exemplo, o chamado compatibilismo. Para estes, a liberdade se baseia no simples fato de pensarmos e tomarmos decisões – esta exigência suplementar, de que a decisão precisa ser “livre”, é uma ideia estranha, se pensarmos bem nela. O que isto significa? Esta ideia só parece fazer sentido para nós por questões culturais – podemos dizer que vivemos em uma “cultura do livre arbítrio”.