Planeta Terra, a Única Bandeira que faz Sentido
Primeiro encontraram o pé esquerdo, depois encontraram o pé direito e uma mão. Essas são as partes do corpo de uma criança encontradas desde ontem a noite no Garfield Park, um parque na região oeste da cidade que resido, Chicago. Há poucos dias, a morte de uma outra criança chacoalhou o mundo, e com muita razão, uma criança síria fugindo de seu país foi encontrada morta em praia turca. Entre a minha casa e esse parque de Chicago existe uma fronteira invisível e é sempre muito mais provável encontrar um corpo desse lado da fronteira (independente da causa da morte).
Inicialmente, podemos pensar que a morte aqui do lado não tem relação nenhuma com a morte no mar turco. Mas tem sim. Vivemos num mundo cheio de fronteiras, visíveis e invisíveis. Pior que isso, se não há imagem não há revolta, como disse o fundador do Border Angels, um grupo humanitário que dá suporte para familiares em buscas de seus entes desaparecidos na fronteira entre EUA e México. O U.S. Border Patrol que “protege” essa fronteira encontrou 307 mortos no ano de 2014, sem contar com o número de mortos do outro lado da fronteira. O número de mortos do lado americano foi de 492 em 2005. Qualquer brasileiro que antes da crise econômica tenha pedido visto para entrar nos EUA sabe o stress que significa querer atravessar essa fronteira, mas eu não tenho como sequer imaginar o stress de um “ilegal” em terra “alheia” ou o stress de um refugiado em transe.